ESSES HUMANOS! AH SIM, ESSES HUMANOS!

É Noite, ainda está quente – isso não chega a ser bem uma novidade – e eu estou sem meu café habitual, talvez por isso as ideias estejam bastante nubladas nessa mente já um tanto quanto deturpada pelo dia-a-dia enfadonho e repetitivo. “Mas eu não sou, nem quero ser igual a quem me diz, que sendo igual eu posso ser feliz”, já dizia o Supla em 1985, ou diz agora pra mim enquanto ouço uma versão bastante precária de “Humanos”– quase amadora devo dizer, mas imagino que tenha sido ótima para os padrões da época – e mais uma vez a música volta a me fazer pensar em questões profundas da nossa sociedade pós-(hiper) moderna, em que é necessário que tudo já esteja pronto e acabado, tudo just in time, “cheios de certezas e vivendo de ilusão” continua o filho do Senhor Suplicy, nos mostrando de uma maneira bastante rebelde e chamativa, o que Bauman, Lipovetsky, e Sartre já haviam dito de uma maneira mais comedida.

 

Nossa sociedade prega um conceito de felicidade aonde a essência individual do ser, a sua parcela de personalidade que o identifica como ser único, é tolhida de modo que dê lugar a um padrão aceito como normal dentro das relações mercadológicas, ao passo que os comportamentos egoísticos são cada vez mais icentivados. Chega a ser bem contraditório, mas essa sociedade extrai violentamente a identidade do indivíduo por meio do nivelamento igualitarista das estratégias de mercado e depois o joga no meio do deserto de si mesmo, infligindo ao indivíduo enorme angústia pela ausência de identidade, forçando a refugiar-se no egoísmo mórbido do consumo compulsivo de mercadorias inúteis para sua existência.

 

Esses humanos! Ah sim, esses humanos! Circulando em suas cidades vazias de sentido e frias de emoções, pré-moldados como “lego’s”, se transformando em peças da enorme engrenagem negra que envenena o mundo e lhes retira sua humanidade. Peças de um sistema maniqueísta e ilusório aonde as aparências acabam se sobrepujando á essência dos seres, “eu não aguento eles querem me controlar, eu não aguento eles querem me conquistar”. E eu ainda continuo sem meu café.

 

#HAM23