Mude

 

“As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem”. (Chico Buarque)

 

Tem muito ser humano por ai com a síndrome de Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim... Gabriela... Sempre Gabriela”.  Mudar, meus caros amigos, deveria ser nosso exercício espiritual cotidiano. As mulheres, por exemplo, geralmente manifestam suas súbitas mudanças no visual, pelos cabelos. Os cabelos para as mulheres, e não só para elas, é uma marca padrão para ostentar mudança. Mas, eis ai a grande confusão: tem pessoas que só mudam o cabelo. Queria ter uma conversa seria com quem um dia andou dizendo por ai que ter originalidade é ir para o caixão lutando pelas mesmas ideias. Pobres humanos que lutam ferozmente por verdades vencidas, com medo de dar o braço a torcer. O impasse ai, nem é a tal mudança de opinião. A questão senhores, é quando não sabemos o motivo da tal mudança.  Não imagino algo mais catártico do que assumir que um argumento contrário ao seu lhe converteu.  Mude, não só os cabelos, mude pequeno, pode até começar pelas bordas, mas comece.

Mude a sua opinião sobre um filme. Ouvi dizer certa vez, que um filme começa antes mesmo do “play”. Ele se inicia na expectativa, pelo trailer, por um spoiler de um amigo, pela critica que você viu antes. Um filme nunca acaba na passagem dos créditos finais. Exige tempo para digerir, acolher, concordar, se enamorar, degustar, desgostar, ruminar. Paradoxalmente, adoro odiar filmes, e depois, perante um conjunto de contra-informações, retornar, reavaliar, ver novas perspectivas e sentidos, dar uma chance, entender que uma obra-prima não é feita só por matéria bruta, mas também por seus arredores, detalhes, pelo sentido que chega diferente em cada um. Quem nunca foi perverso com um filme? Mude sua opinião, mude pequeno, mas comece.

Mude o jeito da pizza: faça sem orégano e veja como fica muito melhor (orégano é um ladrão de sabor). Mude, peça suco em vez de Coca-Cola, é bem mais saudável. Mude jogue um pouco de canela no brigadeiro de panela, o novo gosto ultrapassa explicações. Mude, coloque um pouco de leite na omelete, deixa ela fofa. Mude um ingrediente, transforme a receita, mude pequeno, mas comece.

Mude o arranjo das coisas de vez enquanto: coma o doce antes do salgado. Mude de humor, às vezes o mundo lhe parecia sem cor porque você ainda não sorriu. Mude a rota, pare de pegar a Pires de Castro e siga pela Miguel Rosa, quem sabe com essa mudança até você chegar a Frei Serafim, não esbarre com uma surpresa. Mude, não tenha medo de ter medo. Mude, pare de levar canetas emprestadas e não devolve-las. Mude a careta que você faz para as fotos do Facebook, o mundo precisa de novas caretas. Mude, nunca concorde com tudo que ver por ai, discorde de mim, mas com jeitinho. Mude, dê meia volta e peça desculpas, as despedidas mais importantes infelizmente nunca acontecem, pode não dar tempo, porém lembre-se: ainda dá! Mude, pare de vomitar sentimentos em redes sociais, seja mais sigiloso com seu parceiro. Mude o seu discurso, pare de dizer que você não é preconceituoso, você é, todos nós somos, mude a forma de encarar o preconceito, derrube-o, mas antes admita que ele está em você. Mude, dê lição de moral de vez enquanto, só não exagere, pare na hora certa. Pare por aqui.

 

Texto adaptado de algo que eu li pelas madrugadas em algum tempo pretérito embalado pelo som de Lynyrd Skynyrd.

 

Por: Pablo Cavalcante - #PCC