O deserto virtual de almas vazias e “selfies” sem sentido.

        Peço as rédeas de minha vida neste mundo cada vez mais insano, a necessidade de uma revalorização dos “valores” é iminente, o ser humano deve ser respeitado em razão de sua humanidade. O caos vem a tomar conta de tudo e de todos, infiltrando-se em todas as esferas da vida em comunidade, o outro agora é objeto, o dinheiro agora é objetivo e a felicidade é abarrotada de superficialidades frívolas, uma versão travestida de si mesma repleta de incongruências, e assim caminha a humanidade, talvez nem tanto com passos de formiga e com toda certeza não tão sem vontade assim. Determinados e orientados por políticas de mercado e falácias midiáticas suas almas se perdem no vazio desse grande deserto virtual que se convém chamar de pós-modernidade.

        O tempo continua a correr atroz, agora mais do que antes, tudo é na velocidade de um “click”, tem que ser “4G”, é imprescindível a existência dos “pontos WiFi”, e como diz um comercial de uma conhecida operadora de telefonia móvel: “porque seu mundo não para”. E não para mesmo, muito pelo contrário, é tudo tão rápido, tão dinâmico, tão intenso que já não se tem mais tempo para apreciar a beleza do momento, a grandeza da singularidade de algo único e irrepetível que nunca mais acontecerá da mesma maneira. O importante não é mais o momento em si, mas sim a velocidade para se fazer cada vez mais coisas, para ser cada vez mais coisas, e tudo ao mesmo tempo, porém há que se tomar cuidado pois “aquilo que tudo é nada é”

        Em um universo cheio de conexões e desconexões em massa, aonde toda a pós-modernidade é regida por um insano processo de liquefação, em que o outro é mero objeto de deleite do ego e do impulso, é um verdadeiro ato de rebeldia iniciar um relacionamento e não mudar o status do “Facebook”, apreciar um por do Sol e não postar no “Instagram”, sair com os amigos e não tirar uma “Selfie”. É fazer com que os momentos sejam o que realmente são, a possibilidade de entrar em contato com o outro de maneira real e íntima, despidos das artimanhas tecnológicas que criam um deserto virtual cheio de fantasmas sem rosto e impulsos vazios, repletos de desejos mecanicamente implantados.

 

#HAM23