O ópio da religião ou a religião do ópio - Por que no museu de cera o sentido real nunca é sentido.

Ah como as coisas são vazias, sentidos invertidos, consciências criadas e implantadas por mecanismos exteriores, que se não tomado o devido cuidado alienam e permitem que se controlem as massas sem que estas se deem conta que se encontram imersas em uma ditadura tirânica, cruel e invisível, afinal já dizia certa vez um engenheiro hawaiiano: “Quem quiser saber por que e não tiver o que perder. Não pode acreditar em tudo. Não pode duvidar de nada”. Saber o porquê de que, perder o que, acreditar e duvidar do que? Estamos imersos em ilusões, guinadas de mercado, estratagemas capciosos. Somos constantemente inebriados por uma fumaça opilácea, às vezes por vontade própria, às vezes sem saber (muitos mais sem saber). Afinal não é todo dia que se vê a cara desses caras num museu de cera.

 

Já dizia Karl Marx: "a religião é o ópio do povo", embora não tenha sido tão original, afinal outros já haviam usado a colocação, tais como Kant, Herder e Ludwing Feuerbach, mas o ponto central é: realmente seria a religião o ópio do povo? Sim, claro que sim, mas com as devidas ressalvas – ah essas ressalvas, o que seria do mundo sem elas, não é mesmo? – pois bem, a depender do sentido que é dado ao “Ópio” – que como sabido é substância entorpecente que inebria os sentidos bem como também é viciante – a religião de tal forma também pode ser vista desta(s) maneira(s), inebriando-nos e permitindo-nos conviver com o fardo de estarmos vivos em um mundo de eternos sofrimentos – famoso Vale de Lágrimas – porém à medida que as pessoas abusam das doses diárias de sua religiosidade (a meu ver da religião institucionalizada), esta se torna um fardo mais pesado que a própria realidade, ensejando fanatismos e “guerras santas”, que a bem da verdade não apresentam nenhum propósito real. Assim o ópio pode ser interpretado tanto como a anestesia necessária para suportar a dor, como também a droga viciante que destrói e aprisiona. O ponto central é que a religião separa as pessoas, o que as une é a religiosidade, religiosidade que é muito maior que códices, cânones e ritos, religiosidade que foge da apropriação indébita que se faz de “Deus” ou das “Divindades”.

 

A religião tem sido a porta para inúmeras formas de manipulação e exploração social. A mercantilização da religião é fenômeno bastante praticado desde os tempos imemoriais; a sociedade ocidental tem exemplos marcantes deste processo – veja-se a Ideia Média e a atual Idade Mídia – a venda de indulgências e relicários, bem como os jogos de poder que rodeavam o papado. Hoje em dia o mercado dos missionários e milagres é altamente lucrativo, seja pela quase patológica credulidade das pessoas, seja pela necessidade que se tem de preencher os vazios existenciais criados pela sociedade pós (hiper)-moderna – enquanto isso as forças ocultas tomam de assalto os ouvintes incautos de uma cult band ou quem sabe de uma “bad religion” – o homem “moderno” se permite acreditar em qualquer coisa, e se compra um lugar no paraíso.

 

No fim nada mais certo que a afirmação: “Pequenas Igrejas, grandes negócios” (...) hoje em dia pela falta de sentido, ou significado para suas vidas já insignificantes, as pessoas “apelam” para qualquer coisa que possa lhes tirar o peso da realidade sufocante e entorpecer-lhes com mais “respostas” ilusórias de uma grande mentira programada. Desta maneira assim está montado o circo para que em um pequeno quartinho alugado, um fanático engravatado gritando em uma caixa de som amplificada coisas do gênero: “Satanás está aqui e ele pegará sua alma se você não pagar o dízimo” – logo conseguirá dentro de um mês ou dois, reformar sua casa, trocar de carro (ou comprar um), bem como pagar a escola particular dos filhos. O retrato nada mais é que o mero reflexo de uma sociedade consumerista e movida pela ganância, aonde o ponto fraco é a cobiça, barganha-se com “Deus”, e assim em troca de seus dízimos, os fieis além de conseguir um lote no “condomínio do pós-vida”, levam de quebra, carros, apartamentos e tantos outros bens para usufruírem antes de realizarem a passagem, antes de adentrarem os “Portões de Pérola do nobre Petrus Romanus”. No final a religião é apenas outro meio para a concretização da ganância humana.

 

Ganância que em um mundo aonde tudo é instantâneo, e as coisas acontecem à velocidade de um clique, toma proporções catastróficas e ecatômbicas, hoje o pastor agenda cultos e copta novos fieis pelas redes sociais, o “Facebook” que o diga, com milhares de postagens do gênero: “Se você ama Jesus compartilhe esta imagem”, (nada contra, mas cadê o bom senso), o papa está no “Twiter”, e as vendas de produtos religiosos se dão em tempo real no mercado eletrônico da internet. No final o ópio das religiões, ou religiões do ópio é o reflexo de uma sociedade que busca sempre as saídas mais fáceis, que não pensa, que não reflete, que no final não passa de um grande rebanho desgarrado vagando sem sentido algum, a religião, assim como outros aspectos da vida humana, acaba por perder seus sentidos e torna apenas uma sombra deturpada daquilo que um dia trouxe paz e conforto, ao passo que hoje é apenas mais uma forma de aprisionamento. “Quem quiser remar contra a maré, tem que remar muito mais forte. Não vá à guerra de pés descalços, não pise no tapete com essas botas imundas.” 

 

#HAM23