O Vazio, a Consciência e o Nada...

    A consciência do ser nasce de um exercício de retorno sobre si mesmo, pensando nessa colocação imagina-se então que “minha consciência só nasce quando me desprendo dos  acontecimentos externos, para olhar o meu interior”, em um influxo de retornar á fonte, procuram-se as respostas da questões externas no interno. As consequências desse movimento de retorno sobre si mesmo, são as mais diversas possíveis, e, a depender da maneira como é realizada pode ensejar descrenças profundas e a abertura de abismos abissais dentro do ser existente, uma vez que a visão gerada é simples a tal ponto que leva ao desprendimento total de qualquer sentido ou valor, posto que estes não se validam perante o crivo da verdade e da realidade. O ser deve ser compreendido como o nada, ou o eterno nada, quase em um paralelo com o eterno retorno, posto que todos o movimentos fazem parte de uma elaborada cadeia que indubitavelmente leva ao nada, e assim todas as coisas se fundam em uma só, mesmo que em momentos distintos aparentemente individualizadas,  deixando assim de ter sua pretensa identidade, posto que esta não passa de mera ilusão, e assim “quando tudo é nada é”.

    A partir dessa constatação surgem dois caminhos: a aceitação do nada e a sua negação; por meio da aceitação se chega a um estado de austeridade aonde impera a paciência e a simplicidade, que permeia aqueles que aceitam o caráter irreversível e imutável das fatalidades a que o ser está sujeito, posto que este é mero fantoche dos acasos; por outro lado o caminho da negação leva ao desespero e à angústia, posto que nascem de um eterno debater-se contra a verdade que é posta aos olhos, logo o ser que nega, busca o sentido que não existe, e passa a tentar preenche-lo com a matéria, mas a matéria não é suficiente e logo se frustra, aumentando ainda mais a angústia e o desespero. Ante a visão do absurdo proposta por Camus, existem esse dois caminhos, que pela visão de Sartre correspondem a dois modos de vida; a autenticidade e a inautenticidade, que surgem quando o ser se depara com a verdade.

    A incapacidade que temos de adentrarmos à consciência de nós mesmos, surge em virtude da não aceitação (ou do medo) das respostas que podem ser obtidas, e assim os seres se tornam ainda mais vazios, posto que vivem em angústia por negar a verdade e aumentam ainda mais a angústia por fugir dos meios que os possibilitariam aplacá-la. Constituindo assim formas de vida inautênticas, em que o ser deixa de ser consciente e passa a ser mero mecanismo de reprodução do vazio existencial, que se consubstancia, não como o nada absoluto a que o ser está fadado, mas como a eterna fuga deste nada em busca de um sentido que não existe.

 

 

#HAM23